quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Refletindo sobre a morte.

Central Park - Nova Iorque

Há uma tristeza instalada em meu peito. Ela dói e molha meus olhos, toma conta dos meus pensamentos. São os esbarrões que levamos da vida, uns mais violentos do que outros, que nos põem de frente com à certeza de nossa insignificância diante do infinito e dos mistérios do mundo que nos cerca. Lembro-me de uma conversa com um dos meus irmãos, meses depois da morte do meu pai. Ele se espantava com o fato de que o seu sofrimento não passava com o tempo, ao contrário, ele aumentava. 

Essas são tristezas que estamos condenados a carregar pelo resto de nossas vidas. Mas constato isso e, imediatamente, reflito: não é castigo, é um presente o fato de guardarmos na lembrança, e de uma maneira quase física, a imagem de alguém que preencheu nossos dias com exemplos e alegrias. É como se essas figuras excepcionais, que tivemos o privilégio de conhecer, desfrutar e conviver, se incorporassem definitivamente à nossa vida, ao nosso dia a dia. Permanecem dentro de nós e, sem nos avisar, em alguns momentos, tomam conta de nossa consciência, parecem nos influenciar a pensar de forma mais equilibrada, a agir de maneira mais suave e tranqüila. Essa presença nos conforta e nos encoraja de uma forma inexplicável.


Assim, se num primeiro momento nos sentimos perdidos e desamparados, com o tempo, é como se acrescentássemos as qualidades de quem passou pela nossa vida, aos nossos valores. Aí já não há somente a perda, a saudade, a noção real de que nunca mais veremos aquela pessoa tão querida. Faltarão sempre os abraços, os encontros inesperados em qualquer esquina, mas restarão as lembranças de momentos inesquecíveis, para sempre. 


Há um ganho e não uma perda que se incorpora em nossas vidas que nos ajuda a enfrentar a realidade. Acordo de manhã e me levanto para viver mais um dia. Num dado momento, me dou conta de que não estou sozinha, uma presença toma conta de mim. São instantes e eu me concentro para absorver o que sinto. Outras vezes, no meio de uma conversa, ao ouvir uma música ou notar um passarinho que parece que canta só pra mim, quando sinto o aroma de um prato gostoso, a imaginação voa, e então algo mágico acontece, uma conversa sem palavras, um toque, a certeza de que não estou sozinha. É, literalmente, uma injeção de energia que me dá força e coragem. Desfrutar e cultivar essas ocasiões é um privilégio para quem tem a sensibilidade de percebê-las, não me parece nenhuma loucura...


Não que eu queira me enganar ou me iludir para compensar a dor de nunca mais ter alguém que foi tão importante para mim, fisicamente, ao meu lado. “Certas vidas, certos homens e mulheres, marcam com tanta intensidade seu espaço no mundo, que a morte não é capaz de apagar a grandeza e humanidade do que construíram.” É isso.

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6 comentários:

Flávio Almeida disse...

Belo texto, Pat.
A presença de pessoas que se foram, tornam-se marcas d´água, dentro de nós.
Acho que é isso que nos deixam eternamente encantados e com olhares de crianças pra vida!;)
bjs

Anônimo disse...

Devemos projetar a nossa vida em termos de doação e não de possessão;
Devemos testemunhar com valentia nossa fé,esta fé é uma força que deve reger toda nossa existência.
Tudo isso se acrescenta uma referência embrionária á ressurreição, uma promessa que consola.
bjs
Stella

Anônimo disse...

Pat,
Parabéns pelo blog e pelo texto. Penso sempre que os detalhes são muito importantes na vida. E vc cita alguns que acordam a sua memória e a fazem viajar...
Nessa viagem cabem os que estão e os que estiveram, e isso é que torna tudo mágico.
beijo, Glória Brunetti

Carmo disse...

Pat,
Conteúdo e forma perfeitos.
Depoi de ler o texto, senti uma tranquilidade, como se de repente caíssem fichas. Você traduziu perfeitamente um sentimento que eu tinha, um não entendimento.
Obrigada.
Beijo,
Carmo

Anônimo disse...

Pat querida,
É uma dor que sufoca, porque é um pouco do ar que nos falta, que só com a ausência que se percebe, mas se torna um fôlego a mais quando lembramos de uma das milhares de coisas que nosso pai nos ensinou.
Passei por isso no ano passado, dói muito, acho que ainda dói, mas a lembrança me faz sorrir por ser alguém que teve o privilégio de ter uma pessoa tão especial como meu pai cuidando de mim.
bjs

Anônimo disse...

Belo texto, minha querida amiga Patricia, Sábias palavras encontrei nele. Passei por uma perda semelhante há alguns meses e posso imaginar o que isso significa. Lendo o seu texto vejo essa dor por um outro ângulo menos sofrível. Parabéns pelo conteúdo do seu blog são enriquecedores como você. Fazer parte do seu Hall de amigos para mim é uma dádiva. Obrigado, do amigo,
Gilmar.